O jogo de aventura, ou simplesmente adventure, termo em inglês como é conhecido, é o tipo de jogo mais próximo de uma narrativa que você encontrará por ai.
Narrativa? Sim, pense num filme. Imagine que você é o ator principal deste filme e que você deve ter determinadas ações e que por isso, obterá respostas deste filme. Você já está com o início da idéia do adventure em sua cabeça.
COMEÇANDO PELO COMEÇO
Existe alguma controvérsia acerca de qual foi o primeiro adventure publicado num computador, mas a grande maioria das pessoas aceita (e deve ser verdade) que o primeiro adventure publicado foi o Colossal Caves (também conhecido como advent) de Will Crowther, em 1976.
O jogo, inteiramente em modo texto, fez muitos fãs e conquistou muitos usuários tentando desvendar seus mistérios e fez história: Um dos jogos mais conhecidos do console ATARI foi inspirado nele. O nome do jogo? Adventure .
Mas foi Scott Adams quem popularizou o gênero. Aliás, ele mesmo se intitula “o criador da Indústria de jogos para computadores”, não somente popularizou o gênero adventure, mas seus adventures popularizaram os jogos de computador de forma geral. Sua empresa, a “Adventure International” funcionou de 1978 a 1984, portando seus adventures para as mais variadas plataformas. Seus jogos clássicos podem ser baixados, gratuitamente, em sua página na Internet .
Uma empresa que nasceu nesta mesma época e que conhecemos (e sobreviveu) até os dias atuais é a Sierra Entertainment, que começou com o nome de Sierra On-line, em 1980, e hoje um dos grandes selos de jogos de computador.
Em terras tupiniquins, o jogo primeiro jogo de adventure no Brasil foi o Amazônia, desenvolvido por Renato Degiovani . Aliás, não só o primeiro adventure, mas é considerado o primeiro jogo comercial brasileiro.
MAS AFINAL, O QUE É UM ADVENTURE?
Expliquei sobre a origem, mas acabei por não explicar o que é um adventure. Adventure é um jogo onde existe uma história onde você é direcionado a participar dela, não apenas como um pano de fundo, mas de uma forma imersiva, que pode até mesmo ser comparada a experiência de ler um livro ou assistir a um filme.
O adventure faz com que o jogador, ao mesmo tempo em que está imerso num determinado ambiente de jogo, pode explorá-lo, realizando ações e vendo suas conseqüências. Ou seja, é um jogo baseado em ações, que, diferentemente dos jogos estilo DOOM, não basta fazer algo, mas compreender como determinada coisa funciona.
Jogos de adventure tratam de estórias, resolver problemas e charadas, além de explorar mundos, seja ele qual for. Logo, não se trata de atirar indistintamente nos inimigos na tela, mas um jogo, geralmente mais cadenciado, onde a inteligência e perspicácia do jogador são avaliadas a cada momento.
Podemos conceituar então que adventure são jogos com objetivo em resolver problemas dentro de um foco narrativo. Existe algum elemento de ação nos adventures, mas eles não são essenciais e nem mesmo obrigatórios.
O importante é o enfoque do jogo. O que difere os adventures de outros gêneros de jogos é que a principal razão de ser do jogo é resolver um problema, em um mundo a ser explorado.
É inegável que muitos jogos podem conter (até mesmo propositadamente) elementos de adventure. Puzzles/Enigmas são inseridos em muitos jogos até mesmo para poder ter um conteúdo e uma história que entretenha o jogador. Contudo não se pode dizer que o clássico Mario Bros, apesar de ter um mundo a ser explorado e existir algumas tarefas/puzzles a serem feitos, seja um adventure, pois o enfoque dele não são os problemas, mas o jogo de ação com habilidade no controle do jogo.
Também não devemos confundir o adventure com um RPG, apesar de sua tênue diferença. Não são os elementos comuns que os distinguem, mas os elementos que o RPG tem a mais que o diferencia.
O RPG possui um sistema de pontuação e nível dos participantes onde você não pode fazer determinada tarefa simplesmente porque você não possui o nível desejado, ou seja, necessita desenvolver o seu personagem sendo este, inclusive, um dos objetivos maiores do jogo para poder prosseguir e desenvolver a história. No adventure não existe nível do jogador, mas um mundo inexplorado e que, para ter acesso a uma determinada área, pouco importa se você possui nível 8 ou 80, mas apenas se você é capaz de desenvolver e resolver determinado problema.
ELEMENTOS DE UM ADVENTURE
Podemos, portanto, definir três características presentes em todos os adventures, variando, de caso em caso, o enfoque maior em um ou outro elemento:
- NARRATIVA: Nos adventures a linha narrativa é de vital importância. Dentro de determinado foco, o jogo se desenrola e o faz o jogo ter determinada direção. Ajuda, inclusive, ao jogador esperar por determinado tipo de puzzle. No jogo “The Dig” o objetivo é sair de um planeta desconhecido onde você foi transportado, após uma escavação no espaço. No jogo Amazônia, o objetivo é achar a saída da floresta após um acidente aéreo, evitando índios e outros problemas da floresta. No jogo “Laisure Suit Larry”, você é um estudante universitário que precisa conseguir garotas. Enfim, a gama de histórias em adventures são gigantescas, passando da vida pós morte até detetive de eventos paranormais. Adventures possuem a (ótima) fama de terem histórias realmente criativas.
- PUZZLES/PROBLEMAS: Os problemas são o grande enfoque dos adventures. Diversos são os tipos de problemas, como os puzzles de inventário, onde você deve arrumar itens que você possui a sua disposição com outros, encontrando a resposta desejada; puzzles de diálogos, onde a grande sacada é conseguir informações conversando ou persuadindo personagens a dar alguma direção ou resposta que você deseja; puzzles não contextuais são os puzzles existentes no jogo que necessariamente não possuem relação com a trama/história, como por exemplo, um jogo de xadrez onde você deve fazer alguns lances. As regras do xadrez não dependem se o jogo é sobre piratas ou de alienígenas invadindo o planeta. Ele é resolvido independentemente de história.
- EXPLORAÇÃO: Jogar um adventure requer exploração de um território/local para que ele possa se desenvolver. O quanto essa exploração é necessária depende de cada jogo e da forma como ele foi concebido. As interfaces mais antigas de adventures, baseadas em texto, normalmente utilizavam indicações como “norte”, “sul”, “oeste” para indicar a movimentação do jogador. Em grande parte das vezes, os objetos estão visíveis nos lugares onde o jogador passa ou não são muito complexos de se encontrar.
Em adventures mais modernos, com interfaces gráficas, é possível encontrar objetos de uma forma mais sofisticada, como dentro de caixas, onde somente é possível verificar a existência deste objeto se você “tocar” o local correto (hotspot). Em adventures 3d, é comum a exploração mais acurada de objetos e salas, sendo , muitas vezes, necessário circundar determinada coisa para encontrar o hotspot apropriado.
ONDE COMEÇAR A JOGAR E ALGUNS CLÁSSICOS
Alguns jogos fizeram história e devem ser mencionados aqui, ainda que a título de registro apenas. Nos títulos dos jogos, você poderá encontrar um link para o jogo, disponível na internet:
A lista de jogos é enorme. Colocamos aqui somente alguns jogos disponíveis de forma gratuita. Recomendamos também jogos como Maniac Mansion 2 – Day of the Tentacle, Indiana Jones and fate of Atlantis, The Dig, Full Throttle, Grim Fandango e a série Monkeu Island, todos da Lucas Arts . Alguns outros títulos também merecem ser citados, como as séries Leisure Suit Larry, King’s Quest e Space Quest, todos da Sierra.
Se você conseguir alguns desses jogos, em vários casos estes não funcionarão em sistema recentes, como Windows XP. No caso dos adventures da Lucas Arts, é possível contornar isso utilizando o ScummVm , um projeto Open Source visando emular o engine Scumm, que é o motor dos adventures da Lucas Arts.
GOSTOU? QUER FAZER O SEU?
Se você gostou das histórias, talvez você possa contar suas próprias histórias. Como foi possível perceber, jogos do tipo adventure comportam qualquer tipo de história, onde a criatividade de quem faz o jogo é o limite.
Convenhamos: fantasmas, agentes secretos, salvar reinos, entre outros, são grandes temas, mas muitas vezes soam um pouco falsos seja porque a história é mirabolante demais, seja porque o jogo é importado e às vezes algumas piadas não pegam bem aqui como lá fora. Que tal você fazer um jogo com a sua cara?
Talvez trabalhar como agente do FBI não seja a coisa mais interessante do que um moto boy tentando entregar um pacote num prédio de escritórios ou a aventura de um trabalhador que precisa simplesmente chegar ao trabalho, indo da Zona Leste de São Paulo até a Zona Oeste. O que você acha?
Apresentamos aqui duas alternativas para você criar o seu próprio adventure: O Sistema Editor e o Adventure Game Studio(AGS).
ADVENTURE GAME STUDIO
Desenvolvido principalmente por Cris Jones, o Adventure Game Studio ou simplesmente AGS é um sistema de edição de adventures com um nível de complexidade médio. A boa notícia é que ele é gratuito. A má notícia é que para fazer adventures nele é necessário algumas boas horas de estudo para conseguir efeitos realmente bonitos.
É um bom sistema para fazer jogos “point and click” e até mesmo jogos com interface texto. Entretanto, esqueça resultados rápidos. O jogo requer imagens e um jogo bem feito, sincronizado e com efeitos, digamos, nos padrões que ele exige, requer tempo. Enfim, é uma ótima escolha se você se dá bem com scripts e programação em geral e tem um mínimo cuidado gráfico. O jogo ‘apprentice’ recomendado anteriormente foi inteiramente desenvolvido no AGS se destacando, de forma geral, entre uma grande parte dos desenvolvedores independentes de Adventures. Além do Apprentice, citamos o excelente FATMAN e vários jogos que estão ainda em desenvolvimento. Vale a pena conferir a seção de links e jogos do site do AGS.
Adventure Game Studio – http://www.adventuregamestudio.co.uk/
SISTEMA EDITOR
O sistema Editor é quase tão antigo quanto o jogo Amazônia. Desenvolvido por Renato Degiovani (TILT – http://www.tilt.net), o sistema Editor é uma ferramenta brasileira que promete auxiliar a você que deseja fazer seu próprio adventure de uma forma sem complicação e com poucas linhas de código.
Com absoluta certeza o grande diferencial deste editor é que ele fala a nossa língua. Em outras palavras, o criador do jogo fala Português sem sotaque. Isso significa que qualquer dificuldade com o programa e mesmo sugestão de novos recursos podem ser feitos diretamente com o autor, de modo a facilitar não somente o suporte do programa, como no próprio desenvolvimento de seu jogo e sua idéia.
O jogo cria interfaces de texto e gráficos onde, com auxílio de imagens, você poderá criar seu adventure. O jogador expressa sua vontade por meio de textos, geralmente usando verbo e substantivos, como “PEGUE A CANETA”. É um sistema interessante para quem não tem tanta intimidade com programação e ainda assim quer fazer seu jogo.
Convidamos o leitor a conhecer esse sistema que por um preço bem acessível (na época deste texto, com valor inferior a R$10,00) para os padrões brasileiros, você poderá adquirir o Editor e fazer seu próprio jogo.
TILT – http://www.tilt.net
FINALIZANDO
Existem muitas opções de adventures na internet, passando de meros grupos independentes que gostam do gênero até complexos jogos de empresas como ATARI e Sierra. Para quem gosta de jogos desafiadores, esse realmente é um gênero que merece especial atenção e, se você desejar, já tem a indicação para criar o seu próprio adventure. Boa sorte!
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NOTAS DO TEXTO
1. Este documento é protegido pela Lei 9.610/98 (Lei dos Direito Autorais) e foi escrito unicamente para os leitores da página da XUTI GAME DEVELOPMENT (http://www.xuti.net). Apesar de distribuído gratuitamente na página em questão, é terminantemente proibida a inclusão deste texto em qualquer produto distribuído de forma paga ou gratuita, sob qualquer título, sem a expressa autorização do autor.
2. Tipos de puzzle extraído do texto “What are adventure games?” de Marek Bronstring, disponível no seguinte endereço eletrônico: https://adventuregamers.com/articles/view/17547 (Acesso em 13 de Outubro de 2005, atualizado em 13/12/2020).